Editorial da Revista Corpo Elétrico #2 — Ormando zhiOmn
Fumaça e Cinzas
Saudações, bem vinde à segunda edição da revista Corpo Elétrico. :)
Começando pelos agradecimentos: muito obrigado à todes que participam dessa edição! Ao todo ela inclui obras de mais de vinte artistas, duas entrevistas, duas participações na sessão “A primeira vez que eu…”, a sessão “5 perguntas?” e a Playlist de um Corpo Elétrico.
Agradeço à Fernanda Pacheco pela revisão dos textos, e pelo nosso trabalho em dupla ao editarmos a revista e fazermos as entrevistas. Agradeço também ao mister Juliano Gauche, que inspira a abrir o coração mesmo sendo esquisito.
O dia 31 de outubro é o dia do nascimento do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (obrigado Marianna Perna pela lembrança), e é uma alegria publicar a Corpo Elétrico num aniversário assim. Porém, o motivo que me levou a sugerir esta data foi outro…
“O feriado conhecido popularmente como ‘Halloween’ é o dia do ano conhecido pelas bruxas como ‘Samhain’, quando o véu entre os mundos dos vivos e dos mortos se torna fino. Nos reunimos para relembrar e honrar nossos(as) ancestrais, pessoas amadas que faleceram, e todos com quem nos encontramos.
Conforme lamentamos pelas pessoas amadas que faleceram nesse ano, também lamentamos as perdas e dores sofridas pela Terra, nossa mãe. Ainda assim, enquanto lamentamos, nós também relembramos e honramos o sagrado ciclo de vida, morte, renascimento e regeneração, celebrando os nascimentos das nossas crianças nascidas nesse ano, e nossas próprias conexões vitais com e Terra e com os outros, nas quais baseamos nossa esperança.”
(Citação traduzida de reclaimingspiraldance.org)
Apesar de o dia do Halloween ser o mesmo em todos os continentes, o Samhain não é. Isso é assim porque o calendário celta é baseado nas estações do ano, e quando no hemisfério norte está chegando o inverno, no hemisfério sul está chegando o verão. Então, na parte sul da Terra o Samhain acontece em 1º de maio, e em 31 de outubro celebra-se o Beltane, uma data relacionada à fertilidade, situada entre o equinócio de primavera e o solstício de verão.
No entanto, talvez nossa situação seja mais parecida com as lamentações do Samhain, pois, no momento que escrevo isso, o número de pessoas mortas por coronavírus no mundo ultrapassa 1 milhão e 160 mil, sendo que só no Brasil foram mais de 157 mil.
A dor física das pessoas enfermas, e a dor emocional das pessoas que perderam amigas(os) e parentes, foram desprezadas por psicopatas com mandatos políticos e pelos seus servos, que cada vez mais se tornam incapazes de ver o que estão apoiando, que é um suicídio coletivo.
A caça às bruxas segue acontecendo, os ataques contra terreiros e locais dedicados à religiões de matriz africana é uma das formas em que ela se apresenta, o aumento dos feminicídios e da violência contra mulheres e pessoas LGBTQIAP+ são outras formas. A brutalidade e a maldade com que os povos indígenas são tratados é um exemplo de como demônios sabem criar infernos. As onças do Pantanal, os coalas da Austrália, os grilos do matagal aqui perto, tentam escapar vivos do fogo que destrói seus lares. Os que matam em nome de um Deus não tem noção da própria demência.
Tem dias que olhamos para a humanidade e podem faltar motivos pra sorrir. Mas é bom lembrar que, se ainda estamos aqui é porque nós humanos não somos todes assassinos e/ou pessoas desprovidas de compaixão. Enquanto certas partes do governo não ajudaram (e ainda atrapalham) a população a sobreviver à pandemia, muitas iniciativas organizadas por civis garantiram que cestas básicas (por exemplo) pudessem chegar até famílias que precisavam.
Apesar de tudo, a arte nos salva como pode (e como conseguimos), e por esse motivo nos alegra, em meio à tanta tristeza, nos reunirmos (ao menos na revista) para compartilhar versos, linhas, palavras e artes visuais. Nada é perfeito, mas o mundo não tem só defeitos… Finalizo com versos (traduzidos) da canção “Burning Times”, escrita por Charlie Murphy e gravada pela banda Spiral Dance no disco “Magick”:
“Agora, a Terra é uma bruxa
e os homens ainda a queimam
esfolando-a com a mineração
e com os venenos de suas guerra.s
Ainda assim, para nós a Terra é uma curadora,
uma professora, uma mãe,
a tecelã de uma teia da vida
que mantém todos nós vivos.”
Iririu!
Ormando zhiOmn
Colatina, ES, Brasil
Outubro de 2020
✌ Leia a segunda edição da revista em bitly.com/corpoeletrico2 ou baixe o pdf em bitly.com/corpoeletrico2pdf
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